"Mesmo antes de surgir o convite, eu já havia checado o trabalho de maquiagem e fotografia da Bárbara e todas as vezes me perguntava como seria fazer parte disso. Quando o convite foi feito por ela, perguntas começaram a pipocar sobre o processo, idéias, etc, mas achei que seria um pouco inconveniente perguntar qualquer coisa ou dar pitaco. Havia chegado a hora de experimentar aquilo na pele, literalmente e então aceitei com muita honra fazer parte de um trabalho tão lindo de uma pessoa tão querida pra mim.
Então o dia da maquiagem e das fotos chegou, e eu não sabia bem o que esperar. Não sabia o que a Bárbara tinha em mente nem pra maquiagem, nem pra fotografia. Quando cheguei na casa dela para maquiar, me preocupei apenas em sentar no meio da sala de visitas da maneira mais confortável possível para cooperar e deixar que ela trabalhasse em paz. A maquiagem durou em torno de uma hora e meia e lá pelas tantas, ela comentou que eu parecia uma borboleta. Mesmo sentindo o pincel do delineador na pele, não dava pra imaginar como a tela-viva estava ficando e a julgar os outros trabalhos dela, a área dos olhos deveria estar cheia de filigramas e pontinhos e cores. Foi então que ela complementou o comentário anterior com um "só consigo fazer a tua maquiagem simétrica". Pegue um espelhinho de mão e vi que, de fato, parecia uma borboleta e o melhor: eu me sentia uma. Ou quase, por não ter como voar apesar do vento forte.
No instante que vi o resultado final, sabia que atrairia olhares curiosos na rua. Para uma pessoas com sete tatuagens visíveis, isso deveria ser normal mas quando se trata do rosto, a sensação é completamente diferente. Parece que as pessoas tentam olhar através daquela quantidade de traços e cores, como se eu estivesse me escondendo atrás de uma máscara. Foi inevitável não pensar no trecho de uma música de uma cantora que admiro muito, a norueguesa Marit Larsen: "When she sleeps she keeps her make up, she prefers to live in a lie¹". Pensei mais por causa da maquiagem e da analogia com as máscaras do que com a correlação à mentira: em algum determinado momento, a máscara cai e você não pode mais esconder o rosto.
Enfim, fomos até o Parque Itaimbé fazer as fotos. Olhares curiosos no trabalho da Bárbara e provavelmente no vestido que competia em chamar a atenção. Flores ao vento, sol, sombra, grama, luz. Enquanto caminhávamos depois do término das fotos, cogitava a possibilidade de puxar o demaquilante e o algodão para forçar a queda da tal máscara de borboleta mas fiquei intrigada e quis saber a reação de mais algumas pessoas. Bárbara e eu nos despedimos e cada uma seguiu seu rumo, e eu com um Calçadão pela frente. As pessoas me observaram com mais cuidado, eu me deixei ser observada e retribuí o gesto. Passei por um amigo na frente da Renner mas não parei para cumprimentá-lo, tudo o que eu menos queria era quebrar aquele ciclo que havia iniciado no Parque. Cheguei em casa e, quando me senti sã e salva, retirei a máscara. Um dia depois das fotos, acabei encontrando o mesmo amigo do dia anterior na rua e ele comentou que me viu maquiada e perguntou a razão. Naquele instante, percebi que quando as pessoas dizem que conhecem você elas não estão blefando, seja com máscara ou sem."
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